"No livro Prosa reunida, de Adélia Prado, encontrei uma frase singela e verdadeira ao extremo. Uma personagem põe-se a lembrar da mãe, que era danada de braba, porém esmerava-se na hora de fazer dois molhos de cachinhos no cabelo da filha para que ela fosse bonita pra escola. "Meu Deus, quanto jeito que tem de ter amor."
É comovente porque é algo que a gente esquece: milhões de pequenos gestos são maneiras de amar. Beijos e abraços ás vezes são provas mais de desejo que de amor, exigem retribuição física, são facilidades do corpo. Mas há diversos outros amores podendo ser demonstrados com toques mais sutis.
Mexer no cabelo, pentear os cabelos, tal como aquela mãe e aquela filha, tal como namorados fazem, tal como tanta gente faz: cafunés. Uma amiga tingindo o cabelo da outra, cortando franjas, puxando rabos de cavalo, rindo soltas. Quanto jeito que há de amar.
Flores colhidas na calçada, flores compradas, flores feitas de papel, desenhadas, entregues em datas nada especiais: "Lembrei de você". É esse o único e melhor motivo para crisântemos, margaridas, violetas. Quanto jeito que há de amar.
Um telefonema, pra saber da saúde, uma oferta de carona, um elogio, um livro emprestado, uma carta respondida, repartir o que se tem, cuidados para não magoar, dizer a verdade quando ela é salutar, e mentir, sim, com carinho, se for para evitar feridas e dores desnecessárias. Quanto jeito que há de amar.
Uma foto mantida ao alcance dos olhos, uma lembrança bem guardada, fazer o prato predileto de alguém e botar uma mesa bonita, levar o cachorro pra passear, chamar pra ver um crespúsculo, dar banho em quem não consegue fazê-lo sozinho, ouvir os velhos, ouvir as crianças, ouvir os amigos, ouvir os parentes, ouvir. Quanto jeito que há de amar.
Rezar por alguém, vestir roupa nova pra homenagear, trocar curativos, tirar pra dançar, não espalhar segredos, puxar o cobertor caído, cobrir, visitar doentes, velar, sugerir cidades, discos, brinquedos, brincar: quanto jeito que há..."
Martha Medeiros
Texto retirado do livro Montanha-russa: crônicas - Porto Alegre, RS: L&PM, 2012.
O texto diz tudo Sil. quantas maneiras possíveis de amar. Uma pena que hoje em dia a maioria das pessoas acham isso bobagem ou estão ocupadas demais pensando no futuro e não veem o agora.
ResponderExcluirola vim fazer uma visitaaaa.... Parabéns pelo blog ta muito lindooo
ResponderExcluirvisita o meu quando puder beijos.... http://rosaa-morena.blogspot.com.br/
É Sil... esse amor é aquele da época dos avôs e bisavôs... Aquele amor construído dia a dia por gestos, expressões, carinhos e tudo que está no texto. Acredito ser o amor puro, aquele que dá e perdoa e diante da dor, lembra que a pessoa é muito mais do que um simples erro.
ResponderExcluirHoje em dia é muito difícil achar um sentimento assim: as pessoas procuram aquele amor que não pode nem ser classificado como "conto de fadas", pois elas querem apenas receber. Ao menor sinal de divergência, cortam relações... fora os "eu te amo" ditos da boca pra fora. Amar é muito mais que troca de carinhos físicos.
Que seu dia seja maravilhoso.
Abração esmagador.
Olá, querida Sil
ResponderExcluirFaço isso agora também no wattzap... fica tão fácil fazer as pessoas felizes... um alozinho faz bem sempre...
Bjm festivo de 2015