Abrir mão. Deixar passar. Deixar ir embora! Meu Deus, como isso é difícil. Não é à toa que vemos pessoas resgatando coisas do lixo o tempo todo. Os famosos acumuladores chegaram ao topo de uma cadeia de coisas que fazemos sim, o tempo todo, que é acumular. E ter medo de descartar, de perder. Perder é ruim. Até perder peso é ruim. Por mais que seja uma coisa boa no final, o processo é dolorido. Vemos a gente, como a gente é, ir embora. As responsabilidades nos atravessam aos olhos. Ficamos gordos tanto tempo e nos acostumamos em não ter roupas bonitas que nos sirvam ou homens suficiente nos paquerando. De repente, mudar? Perder? Como assim.
Perder pessoas é uma das piores sensações do ser humano. Morremos de medo, mas, não é só de morrer. Mas de perder. Não queremos morrer e, do outro lado da vida, ver nossos entes queridos sofrendo por isso. Sabemos o quanto é ruim perder e não queremos que ninguém nos perca. E não queremos perder ninguém.
Perder um amor. Perder um parente. Outro dia perdi um colar lindo com pérolas que paguei caro (perdi na minha mudança) e penso nele até hoje. Perder uma aposta. O time do coração perder.
Perder virou um vírus. Não perca, falam os anúncios de coisas que nem sempre precisamos. Não perca a oferta, a chance, a oportunidade. E nos desesperamos, nos seguramos naquilo e pensamos "não, não posso perder". O marketing usa isso. Compramos celulares para os nossos filhos, chips para os nossos cachorros. Colocamos rastreadores nos carros e tablets. Eu não consigo andar com meu Ipad por aí com medo de esquecer em algum lugar. Uma vez perdi uns óculos de marca, paguei caro por ele, deixei-os numa pia de banheiro num shopping. Nunca mais comprei um novo com medo de ter aquela sensação horrível de novo. Minha mãe, depois que a nossa cachorra morreu, nunca mais quis outra "por medo de perdê-la também".
Fazemos loucuras por isso. Apegamo-nos a amores passados. Mantemos um controle sobre nossos filhos. Controlamos as contas. Ai, que medo de perder tudo e ir morar debaixo da ponte. Não, não posso perder meu apartamento, minha casa. Não posso perder o conforto do meu carro, dos meus móveis, da minha cama king size. Então, saio para trabalhar às 6 da manhã, volto às 10 da noite e perco meus filhos crescendo. Ou perco a chance de sair com os amigos e, quem sabe, conhecer um novo amor. Mantemos o status das coisas como nossas... mas, nem sabemos mesmo se precisamos de tudo aquilo.
E perder é soltar. É aceitar que precisamos nos livrar de algumas coisas, principalmente sentimentos e viajar mais leves. É entender que não, não poderemos ter isso ou aquilo daquele jeitinho que queríamos (mas talvez de outros, até mais legais, quem sabe). Que não temos um pingo de controle sobre a saúde dos nossos pais. Ou sobre o sentimento daquele seu grande amor da vida. Pode ser que um dia você o perca. Para outra. E não é porque ela é mais bonita ou rica, mas porque é assim que é.
Soltar é difícil porque eu preciso passar por cima do meu orgulho. Perder o emprego implica que eu conte para todo mundo que sou um fracassado. Perder um casamento também. Não pode isso. Segure! Prenda!! Faça qualquer coisa, mas não deixe isso ir embora.
E um dia, estamos sentados numa cadeira de balanço, cercada de todas as coisas que acumulamos: porta-retratos, fitas de vídeo com nosso filme predileto, lembranças, móveis, a cama mais fofa do mundo, a chaleira que era da minha mãe, uma planta que só vai com a nossa mão. Um cachorro querido, uma moça que trabalha lá em casa, uma porção de livros imperdíveis, um guarda-roupa da moda. E aí fechamos os olhos, só pra descansar um pouco. E não abrimos mais. E talvez sejamos levados por mãos amigas a um local em que, notamos, não precisaremos de nada daquilo. E tudo fica lá, empoeirando. Um relógio velho, que pagamos uma fortuna, mostrando as horas que não podemos mais ver. Nem viver. Um violão sem tocar. Um disco.
E levaremos só as boas coisas que fizemos... as conversas, os beijos (ah, os beijos...), as risadas. Levaremos olhares de admiração. Levaremos o que de bom ficou de tudo o que vivemos e que guardaremos na alma. No coração. E a alma não precisa de mais uma foto daquela balada. Talvez as melhores baladas, as melhores conversas, não tenham nenhuma foto. Só aquele sentimento gostoso que jamais perderemos.
E aí perceberemos que talvez pudéssemos ter feito isso antes. Poderíamos ter vendido a cadeira de balanço, dado o relógio para um mendigo e pulado no meio de uma poça d´água.
Poderíamos ter usado tudo para viajar o mundo. Ou tudo para ajudar alguém que amamos de verdade. E que amar independe da pessoa estar lá ou não. Independe de como a pessoa está lá.
Acesso em: 20/jul/2013.
11 comentários:
Lindo e poeticamente, sábio...
Ghost e Bindi
Bom dia linda!
Amei este post...perder é mesmo doloroso... tudo, tudo... perdi meu celular no avião de retorno ao Brasil, fiquei tão triste, tão triste que parece que arrancaram um pedaço da minha carne, afff, mas passou... rsrs entre outras coisas, sempre deixamos algo para trás, perdemos amigos, parentes, coisas, amores... realmente nos prendemos a isso tudo, mas um dia podemos dizer que valeu a pena... O mais essencial de tudo é não perder a nossa Salvação... a nossa esperança!
Deus abençoe!
Bjinhos
Lindo e verdadeiro este texto
Amei, Sil
Te desejo uma abençoada nova semana, querida
Beijinhos com carinho
Verena e Bichinhos
Muito bom de ler, amei cada linha da mais pura verdade! beijos, querida e tenha uma semana brilhante!
Olá meus mais novos amigos, rsrsrsrs.
Sejam muito bem-vindos ao meu blog.
Bjs.:
Sil
Cris:
Eu já perdi tanta coisa, que contar num post, seria impossível, rsrsrsr.
Mas aprendi e continuo aprendendo a lidar com as perdas.
Bjs.:
Sil
Valeu, Verena.
Também te desejo uma ótima semana.
Bjs.:
Sil
Oi Silvana! Que maravilha de texto! Temos tanto medo de perder que não aproveitamos a vida,olhando para os lados. Mes passado fiz uma faxina no meu armário e pensei que só preciso de umas duas calças e algumas camisetas pra viver bem. Pra que tantos sapatos? Não sou centopeia!...rss...dei quase tudo,deixei um tenis,uma bota,dois bem baixinhos e um alto pra alguma festa.Mesmo assim,ainda tenho muito a desapegar em outras coisas e por isso o texto valeu! bjs e linda semana pra vc,
Olá Regina:
Já ganhei o prêmio Agenda de Ouro e com certeza quero participar e votar esse ano novamente.
Agradeço o recado.
Bjs.:
Sil
Olá Maria Luiza:
O texto é longo, mas é uma lição sobre as perdas, que todos nós precisamos a aprender, né.
Bjs.:
Sil
Anne:
Tô precisando fazer uma faxina dessas no meu armário, URGENTE, rsrsrsrs.
Geralmente faço isso no final do ano e também aproveito pra doar.
Bjs.:
Sil
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